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do jeito dele ou de jeito nenhum, totalitário

Posted on 4 de setembro de 20244 de setembro de 2024 by duda
  1. “Você vai ter que implorar, senão, eu não vou fazer nada. Não disse que ego era coisa de homem?”

Eu não acho que sabia qual era o verdadeiro significado de ter um ego até que, não intencionalmente, destruí completamente o de um homem. Justo o dele, que conseguiu perdoar tantas e tantas coisas que, até então, não conheço nenhuma outra pessoa que seria capaz de perdoar. Justo ele, que me fazia juras de amor, que queria um filho meu, que, mais do que me amar, me venerou. Mas como todos os outros antes dele e todos que vieram depois, no momento em que percebem que eu nunca pertenceria completamente a alguém, este foi o momento em que deixaram de me amar – talvez a decisão mais acertada que tiveram na vida. Nesse caso em específico, bastou meia dúzia de palavras escritas nas páginas brancas de um blog dedicadas a outra pessoa e assim morria aquele amor interminável.  Veja bem, o problema aqui não foi eu ter transado com outra pessoa. Não foi eu ter gozado no pau de outro. Foi eu gastar meu tempo, minha imaginação e minhas palavras com esse cara. Na época, eu não conseguia entender muito bem a razão de tanta mágoa. Na época, eu achava que tinha decifrado tudo que era possível para entender os homens – não poderia estar mais errada. 

  1. “Você vai ter que fazer melhor do que isso. Só essa cara de cachorra não é suficiente, mas é um bom começo.”

Nunca tive problemas em fazer as vontades de outras pessoas. Não porque eu não tivesse minhas próprias vontades, mas porque geralmente as pessoas faziam o que eu queria sem nem ao menos perceber. Tinha desenvolvido o meu próprio jogo de interesse, onde, de um jeito ou de outro, as coisas seriam do meu jeito, mesmo que só eu percebesse isso. Então, mesmo quando um cara achava que estava me dominando, que estava no controle da situação, na verdade, ele só estava exercendo a quantidade exata de poder que eu queria que ele exercesse sobre mim. Ninguém nunca tinha me subjugado de verdade. Ninguém tinha me derrotado. Mas, parafraseando um amigo meu, eu gosto é do problema. Não só gosto, como às vezes até procuro. 

  1. “Ainda não está bom. Você tem que entender que as coisas só acontecem quando eu quero e como eu quero, então se você realmente quer que eu te foda, vai ter que se esforçar.”

Tudo na vida tem sua primeira vez, só que eu não estava preparada para a minha. Eu tinha alguma noção básica de como é ser parcialmente subjugada, teve um cara ou outro que conseguiu me dobrar um pouco. Teve até mesmo um que me deixou obcecada por anos e eu jurava que ninguém conseguiria exercer tamanho poder sobre mim que nem ele, mas na real, nem era tanto poder assim. Novamente, errada pra caralho.

Não me lembro de ter implorado por nada na vida. Talvez em uma situação de crise tenha acontecido. Mas, em geral, se tivesse que demonstrar o mínimo de fraqueza para alguém, pra mim era melhor desistir. E Deus sabe quantas vezes foi fácil desistir. Então, por que eu não conseguia desistir daquilo? As palavras dele tinham um certo tom de superioridade e sinceramente, uma parte enorme de mim se sentia ultrajada por ele achar que eu me sujeitaria aquilo. Mas tinha uma outra parte, uma parte ínfima, que fazia de tudo pra conseguir o que queria. 

  1. “Melhorou um pouco agora, seria melhor se você estivesse de joelhos, mas te ver assim abaixo de mim…”

Então, quando deliberadamente sentei num andar mais baixo que ele, quando tive que olhar pra cima para falar algo, entrei num estado de surpresa e sobrevivência. Minha mente estava tentando calcular quanto do meu ego estava disposto a ir embora: em alguns momentos a resposta era zero, em outros era “talvez só um pouquinho”. Não conseguia acreditar nas palavras que estavam saindo da minha boca, porque não era aquilo que eu queria dizer. Queria levantar, falar “beleza, então foda-se” e ir embora. Queria desesperadamente recuperar o controle. Mas meu corpo respondia de outra forma, e toda vez que ele me olhava, me sentia na porra de um programa do Discovery Channel. “A pantera se aproxima cautelosamente de sua presa. A lebre não faz ideia do que está espreitando na escuridão. A pantera se prepara para dar o bote.” Corta para os espectadores torcendo inutilmente pela lebre enquanto ela tenta escapar. 

  1. “Boa garota. Vamos pro quarto.”

Assim como a lebre, meu fim foi trágico. Tentei me consolar e repeti que “ego é construção social” muitas vezes. Tentei aceitar que não tem problema perder de vez em quando. Mas, mesmo quando tentei recuperar o resto da minha dignidade indo por cima, enforcando ele e restringindo os movimentos, mesmo quando ele gozou duas vezes, mesmo com tudo isso, meu ego ainda esperneava no cantinho da minha mente, dizendo que não acreditava como eu podia ter cedido desse jeito, que aquilo era simplesmente errado. Mas um fato curioso é que não há nada na vida que eu odeie mais do que sair por baixo em uma situação, então assim que tudo acabou, enquanto a porra dele escorria pela minha bunda e eu ouvia a torneira sendo aberta no banheiro, eu jurei vingança, tal qual faz uma criança birrenta e mimada. 

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SOBRE A AUTORA

Transgredindo os pensamentos mais conservadores e causando danos irreparáveis às mentes mais puritanas. Escrevo isso aí quando fico entediada.
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